Na Medida do Possível

Fique por dentro do que rolou na sala de aula, principalmente se você tiver dormido no meio dela...

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Destino

Destino
Henrique Simão

Ele acabava de dar o nó em sua gravata de seda italiana, herança de seu pai, quando ouviu a buzina do carro de seu primo Marcos, um Porsche negro como ébano. Olhou pela janela e gritou:
- Espera aí, já estou descendo.
Acabou de se arrumar depressa e foi se despedir de sua irmã mais nova. Quando saía, Pedro sempre ficava muito preocupado com sua irmã Tamires, afinal de contas, cada um tinha apenas um ao outro, pois seus pais morreram em um acidente de carro há dois anos.
- Já estou indo ok? O Marcos já chegou. Se cuida – disse Pedro.
- Tem certeza de que você quer ir neste baile? – perguntou Tamires.
- Claro, acho que mereço um pouco de diversão de vez em quando né? E também não posso deixar de ir ao baile de formatura do Arnaldo e da Cristina, eu praticamente cresci com eles. Mas por que quer saber?
- Não, estou com um mau-pressentimento...
- Bobagem, isso é coisa da sua cabeça, afinal, o que poderia acontecer?
- Tem razão... Bem, então, divirta-se – disse Tamires, esboçando um leve sorriso, apesar de ainda ter a sensação de que algo ruim iria acontecer.
Pedro deu um beijo na testa de Tamires, pegou seu paletó e correu para o carro.
- Finalmente em Pedro? Achei que você não iria mais!
- Ah, não enche Marcos – brincou.
- Essa festa promete! – exclamou Diego, um dos que estavam no carro.
- Com certeza – concordou André, que também estava lá.
Marcos ligou o carro e acelerou em direção ao salão da festa.
Chegando lá, viram uma multidão querendo entrar, mas não tinham sido convidados. Os Quatro amigos abriram caminho no meio daquele alvoroço e chegaram perto dos seguranças, apresentaram seus convites e entraram.
O salão era enorme, havia mesas por toda parte e no meio uma pista de dança, onde alguns casais dançavam uma música bem calma. Ao fundo, um palco, onde mais tarde iria se apresentar uma banda da cidade. A decoração estava impecável, na parede tinham sido colocadas faixas com os nomes dos formandos e vários balões brancos tinham sido colados em todo canto.
Pedro logo encontrou um grupo de amigos e foi até eles conversar um pouco. Cumprimentou-os e se interagiu da conversa, que para variar era sobre futebol. O time de Otávio, que estava no grupo, havia sido campeão, então ele começou tirar vantagem dos outros. Todos riam, conversavam e se divertiam.
Desde que Pedro havia chegado, ele não bebeu nem comeu nada. Sentiu sede e foi até um balcão onde um garçom servia os convidados. Ele pediu primeiramente um suco, sentou no banco e esperou. Enquanto o garçom preparava o suco, uma garota de mais ou menos da idade de Pedro, pediu uma água com gás. Pedro olhou para ela e sentiu como se o tempo tivesse parado, a festa ficou em silêncio, todos os outros sumiram, só ficaram ele e a garota. Ela olhou em sua direção, seus olhos, como bem lembrava Pedro, eram de um azul estonteante, eram claros como uma piscina. Enquanto ela olhava para ele, Pedro sentiu como se ela visse por dentro de sua alma, um calor invadiu seu corpo, uma sensação incrível, inédita. Ela nunca acreditara em amor a primeira vista, porém, naquele momento, naquele segundo que se tornou uma eternidade, Pedro sabia que aquela era a mulher da sua vida. Então o celular dela tocou e ele saiu de seu transe, como um despertador. Ela atendeu, olhou para o relógio e saiu em direção à saída, nem esperou pela água. Quando Pedro se deu conta, ela já estava na porta, ele se levantou e gritou por ela, queria saber pelo menos seu nome, mas já era tarde, ela se fora, provavelmente para sempre.
Alguns segundos ao lado daquela garota que Pedro sequer sabia o nome já fizeram dele o cara mais feliz do mundo. Agora que ela não estava mais lá, Pedro se sentiu como se tivesse fracassado, como se tivesse perdido a chance que o destino deu para ele ser feliz pelo resto de sua vida. Ele se levantou e tentou voltar para a festa, mas não conseguia tirar a imagem dela da sua cabeça.
Pedro dançou um pouco, conversou mais, tentou aproveitar. Marcos, porém, levou a palavra diversão ao extremo, ele dançava, pulava, cantava e bebia, bebia muito, misturou todo o tipo de bebida que tinha na festa, assim como seus outros amigos.
Já estava tarde, Pedro queria ir embora sozinho, não queria correr o risco de ir de carona com Marcos, que já estava bêbado. Ele já ia saindo da festa quando Marcos o chamou:
- Ei cara! Já vai? Ainda está cedo, agora que são... –olhou no relógio – puxa, já tá bem tarde, vamos embora então.
- Mas você vai dirigindo? Você na está em condições – disse Pedro.
- Claro que estou, eu só bebi um pouquinho. Vamos indo.
Marcos chamou Diego e André e foram os quatro para o carro. Apesar de Pedro ainda estar meio receoso, mas confiou no amigo e entrou.
Eles deixaram André em casa primeiro e depois Diego. Marcos agora seguia por uma avenida, a caminho da casa de Pedro. Por estarem em linha reta, Marcos resolveu se divertir um pouco, acelerou o carro. Pedro chamou sua atenção mas ele nem ligou, continuou a acelerar. 130 km/h e mesmo assim não tirava o pé do acelerador. Pedro já estava nervoso e gritava, mas Marcos fingia que não escutava. Então ele entrou na contramão, de frente para um caminhão. Pedro gritou e tomou o volante e o virou de uma vez. O carro derrapou e capotou. Pedro viu tudo girar. O mundo estava de cabeça para baixo. E então a dor, uma dor insuportável, ele sentia sua perna ser prensada, seu braço esmagado. Tudo o que queria agora é que aquela dor parasse, não podia pensar em mais nada. Sua visão estava turva. Desmaiou. No momento que fechava seus olhos, Pedro viu toda a sua vida passar diante dele, em um milésimo de segundo. Porque tudo tinha que acabar assim? E quanto a sua irmã? E a garota da festa? Não, não podia acabar desse jeito.
Pedro abria aos olhos aos poucos para se acostumar com a claridade, era tudo muito branco.
- Eu morri? – pensou ele – é este o céu?
Sua visão estava ainda embaçada, tentou se levantar, porém não conseguiu, sentiu uma dor terrível e tinha a impressão de estar ligado a dezenas de cabos. Fechou os olhos novamente e dormiu.
Voltou a acordar, começou a abrir os olhos de novo, só que desta vez era tudo azul, como estivesse deitado em um campo aberto em uma tarde de primavera, ou como se estivesse prestes a mergulhar em uma piscina de águas claras. Sua vista agora tomava forma, o que era tudo azul, se resumiu em dois únicos pontos, o fundo era branco como a neve. Ao redor dos pontos azuis uma outra forma foi surgindo, um rosto, sim, um rosto delicado, feminino. Ela vestia um uniforme branco, simples. Pedro se lembrou então de uma festa, que parecia ter sido há anos, se lembrou daqueles olhos penetrantes, se lembrou da sensação de se apaixonar. Ele a encontrara.

by:Me =)

Música do post:"Back in Black" - AC/DC
http://migre.me/Zu8r

6 comentários:

  1. cara nem li o conto mais mesmo assim tá de parabéns... porque se tá no blog e porqur ficou bom.

    aaaa....ótima escolha de música hein...^^

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  2. Nossa.....muito bom o conto, Parabéns! =D

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  3. é bom,parabéns,mas eu não fico a fim de ficar lendo contos grandes.

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